segunda-feira, 29 de junho de 2009

Pais ausentes, filhos delinquentes


As férias escolares se aproximam, e agora começa o terror de uma boa parte de gente interessada: OS PAIS. Enquanto os filhos estão nas Escolas, alguns estão em seus empregos, conseguindo o tão suado sustento para suas famílias. Mas boa parte deles também estão povoando a parte dos desocupados de plantão, que vivem infernizando a vida alheia em detrimento da própria. Doce ilusão.

Quem paga por tudo isso? A SOCIEDADE!

Não é de hoje que a Escola virou um depósito de gente. E muitos já admitem isso abertamente. Não há como a educação atingir um patamar aceitável se nós mesmos não a aceitarmos como alicerce para a formação da personalidade do ser-humano, com uma participação efetiva dos pais em sua formação moral. Mas o que acontece é que muitos pais também admitem que só tem sossego em suas vidas quando os filhos estão na Escola.

Certa vez, em conversa com uma mãe em um dos corredores da minha Escola, ela me deu os parabéns, porque o filho gostava muito de mim e não via a hora de chegar à Escola no dia de minha aula. Fiquei muito feliz e agradeci.

Ela continuou. Disse também que não sabia como eu aguentava aquela praga, aquele estorvo, que quando o menino ficava em casa ele apanhava de hora em hora porque não dava sossego para ninguém. Isso tudo com o menininho ao meu lado, achando tudo aquilo muito maravilhoso.

Eu disse para ela: para senhora ver como é. Na sua casa têm apenas 2 crianças para serem cuidadas. E aqui que a gente tem mais de mil? A classe que eu tenho menos, tem 20 alunos, em média. Acredito que seu filho deva pensar a mesma coisa da senhora quando sai de casa. Até que enfim fiquei livre daquela inútil! Eu sei que tem coisas que nós não podemos dizer para os pais. Mas também devia ter uma cartilha falando as que nós também não podemos escutar.

Não há matemática complicada nesse sentido. Quando os pais são ausentes na vida dos filhos, não digo só na parte presencial, mas mais ainda na presença moral, sentimental, a chance de criarem delinquentes é assustadoramente grande. É até uma forma dessas crianças dizerem, de uma maneira frustrante, diga-se de passagem: Hei! Estou aqui.

Quem planta banana não tem como colher tomate.

Antigamente, os filhos tinham orgulho dos pais. Espelhavam-se neles, queriam ser como eles. Prova disso é a enorme quantidade de médicos filhos de médicos, advogados filhos de advogados, farmacêuticos filhos de farmacêuticos, engenheiros filhos de engenheiros e, porque não, professores filhos de professores. É a continuidade da profissão baseada no orgulho, e em alguns casos até mesmo na imposição, que alguns filhos tinham de seus pais.

Não vi ainda estudo sobre isso, mas tenho certeza que muitas famílias comerciais históricas estão desaparecendo por não terem quem receba sua herança. É a lei da vida:


Parte de mim é o que eu fui e o que eu sou. O que eu serei depende do pouco de mim que eu consigo colocar nos outros.


Em conversa com uma professora amiga minha, eu estava reclamando do tal Toque de Recolher, que agora rebatizaram para Toque de Acolher (grande mudança). E dizia a ela que isso era apenas jogar a sujeita para debaixo do tapete.

Ela me respondeu: cuidado, você tem filhas!

Eu respondi: Você também!

Prefiro acreditar que a possibilidade maior que eu tenho é a de formar cidadãs fantásticas. Filho não é probabilidade. Filho é um fato.

Um grande pensador disse, certa vez:

Filhos são como flechas atiradas. Você pode dar a elas força e direção, mas nunca pode ter certeza de que elas atingirão o seu objetivo.

Eu tenho dado força e direção, mas vai chegar um dia que o objetivo dependerá só delas. Nesse momento eu estarei tranquilo com minha consciência, porque tenho certeza que fiz o meu melhor. Tenho certeza que minhas filhas têm orgulho, e não vergonha de mim. Como elas também têm orgulho das avós, dos tios e até de si mesmas.

Outro dia fui a uma barraquinha de cachorro-quente, saindo no intervalo da faculdade, para fazer um lanchinho, com minha grande amiga Luciane Borges, amiga de longa data, companheira de profissão, colega de faculdade, pessoa que também tenho um orgulho tremendo. Chegando lá, a proprietária, depois de conversarmos bastante sobre vários assuntos, disse que suas filhas fugiam de lá, toda vez que a gente chegava. Eu estranhei, mas ainda assim perguntei o porque. Ela disse que as meninas tinham vergonha da mãe, porque esta era vendedora de cachorro-quente. Acho que não preciso dizer mais nada sobre isso não é?

Devemos ter vengonha de termos pais irresponsáveis, inúteis, ignorantes moralmente, porque intelectualmente já depende de sua condição de vida, mas ter vengonha de pais batalhadores, honestos, dignos, que não medem esforços para dar uma condição melhor de vida a seus filhos, não dá.

Então, participe da vida de seus filhos. Veja as férias como uma forma que você tem de ficar um tempo a mais com eles. Demonstrar-lhes, carinho, dedicação, afeto, compreensão. Faça com que eles tenham orgulho de você, para que no futuro você tenha orgulho deles.

Tenho certeza de que todos os dias o resultado final do que estes produzem nada mas é do que para, assim que chegarem em casa, serem notados por seus pais. Nós também já fomos filhos (e ainda somos), em épocas diferentes, mas fomos. Quem nunca quis chegar em casa com o boletim nas mãos, louco para mostrar para os pais, para que estes vessem o resultado da sua dedicação escolar?


Somos seres formados por milhares de outros. Cada um que fez parte das nossas vidas, fez parte da nossa formação moral e intelectual.


Não abandone seus filhos a própria sorte.

Quando você abandona uma construção e deixa ela por conta de outras pessoas, não pode reclamar do trabalho do pedreiro.

Ninguém pode ser responsável por aquilo que era você que tinha que ter feito.

2 comentários:

  1. Sou filha de pais ausentes, mas hoje entendo a situação deles. É difícl esquecer a dor que a ausência causa e o tanto que essa carência nos prejudica no futuro. Felizmente não me tornei uma delinquente, pelo contrário, me enfiei nos estudos e mantive um caminho que eu achava que me faria ser alguém no futuro. A pior fase a ser superada, para mim, foi a adolescência. Hoje, adulta, infelizmente, a presença deles tornou-se prescindível. Mas hoje eu entendo que eles não puderam me oferecer o afeto de que eu precisava, porque eles mesmos não tiveram isso. Me deram aquilo que puderam. Eu pretendo não seguir em frente com esse modelo, não sei se conseguirei, e esse é mais um motivo para compreendê-los. Contudo, acredito que mesmo com todos os empecilhos, cada um é capaz de escolher seu próprio caminho. Eu podia ser uma deliquente rebelde, não sou. Podia ser uma drogada, não sou. Provavelmente com a criação adequada eu teria mais momentos felizes e cairia menos em armadilhas. Porém, não adianta implorar por um carinho que não está nem nunca estará lá. O jeito é seguir em frente e tentar suprir essa ausência em outras atividades ou pessoas. Família nem sempre tem a ver com genética.

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  2. Olá,

    Agradeço verdadeiramente a Deus por você ser uma exceção, porque a realidade é muito mais cruel. Os estudos não podem ser ignorados, e estes mostram que a ausência dos pais na vida dos filhos torna a vida destes muito mais complicadas. Seu comentário tem fundamento. Os pais de hoje têm que se ausentar para poder sustentar suas famílias. Mas isso não pode servir de argumento para deixarem seus filhos ao Deus dará, jogados a própria sorte. Você teve sorte, felizmente. Mas quantos outros não tiveram.
    Obrigado por Existir!!!

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