domingo, 20 de novembro de 2011

Os Novos Caminhos da Educação


Atualmente tenho lido bastante. Curiosamente, tenho cada dia me interessado mais sobre Educação. Digo curiosamente porque, numa disciplina tão importante, mas tão marginalizada quanto a minha, talvez compreender um pouco mais sobre Educação não faria muita diferença, afinal, todo mundo sabe que a Informática é importante, mas pouca gente entende por que.

Todo dia recebo pesquisas que, quando vou preencher, perguntam qual a disciplina que leciono. Rs. Aí me dão várias opções para escolher. Menos a minha.

Mas tudo bem.

Era pedir demais igualdade nesse mundo tão desigual.

Mas é justamente sobre isso que eu vou falar hoje. Sei que provavelmente serei mal interpretado pelos "comuns", mas isso também pouco me importa. Mais importante para mim é dar o meu melhor, estar de bem com a minha consciência, porque é isso que a vida espera de cada um de nós.

Hoje temos visto a solução dos problemas da Educação em todas as mídias: nos jornais, revistas especializadas, TV...

Mas é curioso. Parece que pouco evoluímos. Se é que evoluímos.

Adoro conversar com educadores, e Deus tem me premiado em poder estar em contado com alguns maravilhosos: Juraci, Alexandre, meus colegas de trabalho...

Adoro conversar com pais de alunos.

Eu disse pais de alunos. Pessoas comprometidas, preocupadas... Figuras difíceis de encontrar.

Não alguns desses procriadores profissionais que temos visto por aí.

Adoro também conversar com professores, ou pais de professores, destes que têm orgulho da profissão que os filhos resolveram tomar para si.

E também tenho um orgulho enorme de trabalhar com alguns destes.

Tanto que cheguei à conclusão que o grande problema da Educação não está apenas na criança ou nos seus responsáveis: ESTÁ EM GRANDE PARTE NO PROFESSOR!

Infelizmente grandes profissionais já saíram da Educação atuante.

Infelizmente, alguns ainda não saíram, e têm feito com que outros tenham que trabalhar cada dia mais e mais para carregá-los nas costas.

Quem vai a reunião ou encontro de médicos, sabe que é uma reunião de médicos.
Quem vai a reunião ou encontro de dentistas, Psicólogos, profissionais da Saúde, sabe que é uma reunião desse tipo de profissionais.

Quem vai a uma reunião de professores ou profissionais de Educação só sabe que se trata disso por conta das enormes placas que eles sempre colocam nas entradas dos eventos. Porque os comportamentos desses pouco diferem do comportamento dos alunos nas escolas.

Conversas incontroláveis;

Papel de bala, cadeiras bagunçadas, chiclete embaixo da mesa...

Barulho incontestável;

Se perguntarmos o assunto que está sendo tratado, poucos saberão;

Isso te lembra alguma coisa?

Mas ao final boa parte perguntará a mesma coisa: TEM CERTIFICADO?

E você não imagina o quanto os irrita falar sobre isso. Entendem que estamos querendo ser melhor que eles. Estamos querendo aparecer. E que isso não passa de um direito que têm pelo seu esforço e dedicação.

NOTA: Informática é uma disciplina que só existe no papel!

Mas nem por isso deixei de estudar. E hoje posso afirmar que não devo nada para nenhum educador. Já consigo conversar igualmente com qualquer um. Tenho me especializado no Estatuto da Criança e do Adolescente (que se fosse aplicado da maneira correta, que não protegesse tão discriminadamente somente a criança), talvez seria, depois do Código de Defesa do Consumidor, uma das maiores "criações" da nossa sociedade moderna. Talvez. Tenho me especializado em assuntos relacionados à Educação.

De tanto querer me aperfeiçoar, para NADA, descobri que a cada dia que passa meu NADA tem valido mais que eu imaginava. Tenho feito contatos, conhecido pessoas, freqüentado ambientes, e passei a compreender a minha função na Educação:

A de OPERÁRIO.

Aos grandes educadores dispostos a resolver os problemas da humanidade, está aí a solução:

Precisamos de índios! Mas nossa tribo está com cheia de Caciques!

Estamos com muita gente para mandar, e ninguém para obedecer.

Todos querem ser líderes. Eu já não faço questão. Nasci para jogar.

Não faço a menor questão de ser Diretor, Coordenador: eu quero ser PROFESSOR, porque só assim eu posso fazer a diferença.

E é isso que devemos admitir: alguns nasceram para ser jogadores, ótimos jogadores, outros para serem técnicos. Ótimos técnicos, e devemos entender que ninguém está jogando por si ou pelo outro. ESTAMOS JOGANDO PELO TIME.

É chegada a hora de compreendermos que a Instituição maior é a Escola. Que esta é composta de Diretores, professores, auxiliares, serventes, secretários, dentistas... Até nutricionistas. No papel, o corpo de profissionais da Educação não deve a nenhuma outra instituição.

Mas não funciona!

Porque é cada um por si.

Eu tenho orgulho dos profissionais que trabalham comigo. Mas tanto, que isso talvez até os irrite. Eu tenho orgulho da Instituição que represento. Mas tanto, que incomoda quem não está, alguns infelizmente, nela.

Sou tão operário que algumas pessoas acham que faço isso para aparecer.

APARECER PARA QUEM?

Informática não existe. Só no papel. E é tão importante quanto o papel higiênico: só serve para limpar a cagada que os outros fizeram!

Temos que lutar mais para elevar o nome da nossa Instituição e, consequentemente, o nosso também. Se um colega nosso faz sucesso, fazemos junto. Afinal, o ajudamos a atingir o nível que atingiu.

Temos que ficar felizes com o sucesso dos outros. Porque, nesse caso, a felicidade deles é o nosso também.

Devemos ser companheiros, amigos de causa, batalhadores incansáveis.

Assim é o professor!

Ontem um pai me perguntou a que profissão eu compararia o do professor.

Eu disse que compararia à de um Policial Militar que invade favelas.

Então, ele se assustou e disse:

_Nossa, a coisa é tão feia assim?

Eu disse:

_ Não, a situação deles é bem melhor que a nossa. Eles podem usar coletes e armas. A única arma do professor é a palavra!

Uma semana dessas ví uma mãe reclamando na Escola do porque ela havia sido chamada à Escola para resolver problemas do filho, se quando ela tem problemas com o filho em casa ela não chama nenhum professor.

Não é lindo ouvir isso?

Estamos reclamando demais e fazendo pouco a nossa parte.

Adianta reclamar da família?

Adianta reclamar da falta de estrutura familiar, religiosidade? ...

Adianta reclamar dos baixos salários?

Os pais terceirizaram a educação dos seus filhos. Isso é um fato, e cabe a nós fazer com que esses filhos não façam a mesma coisa com os filhos deles.

Precisamos ser operários. Precisamos lutar primeiro para que nosso nome volte a ser colocado entre as profissões com maior taxa de aprovação, como a dos nobres Bombeiros, que também salvam vidas, mas de uma maneira diferente, para depois começarmos a pensar se estamos sendo valorizados ou não.

O maior pagamento para um professor é ver um ex-aluno seu fazendo sucesso, crescendo na carreira, tornando-se uma pessoa de valor.

Existe ex-aluno?

O que é para ser nosso será.

Cobramos demais, mas estamos preparados para isso?

Esperamos dos professores que eles sejam criaturas diferenciadas. Mas olhe a sua volta: é isso que você vê?

Mas por favor: não me faça perguntas para quais você não tem competência para entender e compreender a resposta.

Curto e grosso!

Cara, eu vejo meus antigos professores, e faço questão de dizer a eles que eu me tornei a pessoa que me tornei por causa deles. Faço mesmo!

Esses dias vi uma professora falar que tem orgulho de poder dizer aos amigos dela que foi minha professora.

Parou o mundo.

Você sabe o que é isso?

É como escutar o Pelé dizendo às pessoas que teve orgulho de ter jogado com você.

Tem dinheiro que pague isso?

Então, hoje eu estudo para poder fazer a diferença no time que eu estiver jogando, mas sempre em benefício do bem maior, QUE É O TIME.

A figura mais importante de uma Escola não é o professor ou o aluno: é a Escola.

É por ela que devemos batalhar, sempre. E quanto mais ela aparecer, melhores são os seus professores, alunos, funcionários...

Quando um time de futebol sagra-se campeão, ganhou um time inteiro, não um só jogador. É o time que vai entrar para história e, o jogador, por ter feito parte daquele time vencedor.

Então, vamos parar com a hipocrisia de achar que somos melhores que os outros porque, se o barco afunda, a culpa é de todos, e se vence, mérito de todos.

Temos que parar de querer levar vantagem em tudo que fazemos e pensar no bem comum.

Quem têm pagado o preço maior são as nossas crianças, mas é delas que temos reclamado mais. Estamos esquecendo de olhar no espelho.

Para encerrar esse desabafo, vou contar uma historinha que aconteceu comigo, e talvez demonstrar um pouquinho o "idiota" que eu sou:

Semana passada eu, em uma dessas minhas incursões pelo refeitório da Escola, lugar em que faço questão de estar com as crianças, conversar bastante com os funcionários, exigir que as crianças não desperdicem e, ainda assim, escutar professor dizendo que eu faço isso para aparecer (Deus está vendo, ainda bem), eu vi uma criancinha, agitada, andando de um lado para o outro, querendo "aparecer".

Bateu o segundo sinal, ela correu para pegar o prato.

Nota: ela ficou todo o momento no refeitório e não se preocupou em comer nada.

Então, a cozinheira disse a ela que àquela hora não era momento de comer, que ela ficou lá até bater o sinal e não pegou o prato.

A criancinha ficou brava, disse que estava com fome, e foi então pegar o copo para pegar suco na máquina de suco. Eu estava do lado e dei um sinal para a cozinheira que deixasse, e fui tentando convencer a criança que ela estava errada, que ela tinha se preocupado mais em ficar fazendo "micagens" no refeitório para as outras crianças do que se alimentar. Ela amassou todo o copo, ainda com suco, e ficou andando de um lado para o outro, nervosa.

Falou mal da cozinheira, dos outros funcionários e também me tratou mal. Tomei o copo da sua mão e exigi que ela fosse para a sua sala de aula.

E assim ela fez, nervosa, porque disse que estava com fome.

Fiz isso porque sabia que a outra aula com essa criança seria a minha.

Dito e feito: dei minha aula naturalmente e, ao final, chamei essa criança de lado, separadamente, ajoelhei-me diante dela, para ficar da mesma altura que ela e, olhando nos seus olhinhos eu disse:

_ Anjinho, você viu o que você fez no refeitório?

Ela disse:

_ O senhor me agrediu. Não deixou eu comer.

Eu perguntei a ela:

_ Foi realmente isso que eu fiz ou é isso que você quer que seus pais entendam? Em algum momento eu coloquei a mão em você? De alguma maneira eu te tratei mal? Ou melhor, Alguma vez eu fiz isso com você?

Para minha surpresa, ela disse que não.

Desculpe minha pretensão, mas eu acredito que é nesse momento que o Educador faz a diferença. Então eu disse para ela.

_ Anjinho, é assim que você trata as pessoas que te tratam bem?

Ela balançou a cabeça, negativamente.

_ Você esta vendo o que você faz com as pessoas que gostam de você. Você trata a todos como iguais, atira para todos os lados, e não se preocupa em saber que no meio existem muitas pessoas que gostam de você, e que ficam magoados com as suas ações. Em algum momento eu dei motivos para que você agisse da maneira que agiu comigo? - Continuei.

Mais uma vez ela balançou negativamente a cabeça.

_ Então, fiotinha, entenda que nem todas as pessoas são responsáveis pelas coisas ruins que acontecem com a gente. Não duvido que você não tenha motivos para agir como você age, mas está na hora de você começar a separar as coisas, valorizar ainda mais as pessoas que te querem bem e mostrar para as pessoas que te humilham, que te ofendem, que você não é como eles. Eu tenho um carinho enorme por você. Sei que é inteligente, esperta, mas não é assim que você está agindo. Não isso que você está demonstrando para as outras pessoas. Está fazendo com que as pessoas tenham medo de você. É isso que você quer que as pessoas tenham?

Mais uma vez ela balançou a cabeça, negativamente.

_ Então, por favor, não me trate mais assim, tá legal? Veja a moça do refeitorio. Você magoou ela. Ela sempre tratou você tão bem e você a envergonhou na frente de todos. Sugiro que você peça desculpas a ela, porque ela é uma das pessoas que te querem muito bem aqui.

A menininha, para minha surpresa, me deu um abraço super apertado, e começou a chorar.

Ela tem apenas 6 aninhos.

Dá para você entender a situação que eu fiquei?

Veio a minha mente o tanto que essa criança já foi maltratada, humilhada, criticada. Todos a tratando como um bichinho, um animal, sendo que ela é apenas uma criaturinha que precisa um pouco mais do nosso carinho.

Puta que pariu!

ISSO É EDUCAÇÃO?

Essa é a Educação do século 21 que vemos sendo ventilada em todas as revistas.
É, em sua grande maioria, esse tipo de criança que temos contato todos os dias, mas que os professorzinhos bonitinhos da bala chita não se cansam de desprezar.

A Escola deixou de ser coletiva há muito tempo. Os novos professores devem estar preparados para isso. Devemos coletivizar as individualidades.

Eu não sou melhor que ninguém, nem pretendo ser. Mas faço questão de estar entre eles, na instituição que estes representem.

Então, todos somos responsáveis por tudo isso. TODOS!

Continuando.

Depois, corri atrás desses outros funcionários envolvidos nessa questão com a criança para contar o ocorrido, e descobri que a coitadinha apanha igual vaca na horta, que os pais são separados, que a mãe bebe, que o padrasto...

O que importa isso? Isso está cada dia mais comum!

É para isso que estudamos, como me disse uma vez um Promotor de Justiça. Para saber identificar essas situações e tentar contorná-las.

Que bom. Parabéns doutor.

Não é agir como pai e mãe. É agir como seres humanos.

É tentar dar a essas criaturinhas de Deus aquilo que uns filhos da puta tentam tirar deles todos os dias.

É mostrar-lhes que eles podem, mesmo que muitos digam que não.

É dessa Escola que eu quero fazer parte: a que faz a diferença na vida das pessoas.

Eu tenho orgulho de trabalhar com as pessoas que eu trabalho. Torço, mas em alguns momentos tenho vergonha de estar entre elas, e isso em alguns momentos me faz mal.

A Educação não precisa só de quem mande. Precisa também de quem obedeça.

Se fosse assim:

Um time só jogava com atacantes.

Uma tribo teria apenas caciques.

Um dia, uma pessoa vai olhar para o filho e dizer:

_ Eu estudei naquela Escola. Eu estudei com aquele professor...

Se ela estiver com um sorriso nos lábios, fizemos bem a nossa parte.

Como aquela historinha do sapo surdo:

SEM SABER QUE ERA IMPOSSÍVEL, FOI LÁ E FEZ.


Obrigado por existir!!!!

2 comentários:

  1. bom dia companheiro. Parabéns pelo seu artigo desabafo, em parte concordo contigo. So vim compreender que temos uma fatia culpada nesse bolo, qdo estive a frente da gestão de uma escola, ai sim percebi quanto nossos companheiros estão omissos na sua função. Em outras, estou indo pelo viés da profissionalização, os médicos, advogados são diferentes de nós por que os mesmos são profissionais, enquanto a gente ainda encontra-se na ilusão do sacerdocio, do amor, da vocação. Um abraço para ti. Veja o que escrevi em artigo no meu blog wwwgeraldaefigenia.blogspot.com - sindicato e o debate da profissionalização docente. Gostaria de ouvir sua opinião, ela vai representar diferenças, já que temos opiniões parecidas pelo que leio do seu blog, que sou seguidora e faz parte dos meus links. Abçs

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  2. Olá geralda. Também tenho acompanhado o que escreve. E você é uma das pessoas que me fazem ter orgulho do que eu faço. Saber que pessoas como você existem tornam ainda mais recompensante a nossa profissão.
    Somos entusiastas inusitados, muletas de um sistema que às vezes nos deixa desanimados, mas nunca com vontade de desistir.
    Quando comparo a nossa profissão com a desses outros grandes profissionais, vejo que podereiamos fazer muito mais, se nos dessem as mesmas condições.
    O professor é um anjo sem asas.
    O aluno é um anjo que ainda não descobriu as asas que têm, e cabe ao professor mostrar-lhe onde estão e como usá-las.
    Isso é muito gratificante.
    Mais gratificante ainda é saber que você existe.

    Obrigado por fazer a diferença na educação!

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