quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O ANJO DE ASA QUEBRADA

Era uma vez um anjo, moleque, distraído e arteiro, belo, discreto e faceiro, que vivia no Paraíso, cercado pelas suas belezas e animado pelos outros anjos que lá habitavam. O Paraíso, ou Céu, como muitos tem o costume de chamar, é um lugar mágico, perfeito, mas pequeno tamanha a curiosidade desse pequeno anjo.

Queria saber sobre tudo.

Um dia, em uma das audiências matinais com o Pai Eterno, Esse, percebendo a inquietação do pequeno Querubim, sentou-o em seu colo e lhe disse:

_ Pequeno Anjo. Sei que a curiosidade ronda o universo da sua alma. Que é dinâmico e voraz em conhecimentos. Mas entenda que tudo tem seu tempo, e tudo tem explicação. Não adianta colcoar o carro na frente dos bois. Aproveite a intensidade da sua existência na medida de prazeres que ela lhe proporciona. Não se desespere por pouca coisa. E mais, nunca vá mais longe do que possa voltar. Não digo isso em relação às distãncias físicas, mas a essa enorme estrada que é o conhecimento.

Depois desse dia, mesmo depois de ouvir as sábias palavras do Pai Celestial, o pequeno anjo não se conteve. No outro dia, logo bem cedo, bateu asas e, mesmo contra rígidas recomendações, visitou a Terra, camuflado por sua divindade, e visitou todos os seus cantos.

Viu miséria, pobreza, avareza, arrogância, desonestidade, mas também viu amor, dedicação, carinho, afeto, honestidade, tolerância, paixão...

Não entendia porque em meio a tanta beleza, existisse ainda tanta dificuldade, tanta intolerância.

Ao invés de sanar suas dúvidas, voltava ainda mais baratinado.

Em uma manobra para voltar aos céus, destraiu-se e caiu ao chão, batendo dolorosamente suas asinhas no chão, e uma delas se quebrou. Esqueceu-se que, em meio aos mortais, sua imunidade era menor. Mas agora não adiantava mais. E, para piorar, quando caiu bateu sua cabecinha, e perdeu totalmente a memória.

Como medida de proteção celestial, suas asisnhas desapareceram, e ele tornou-se um mortal.

Foi acolhido por uma familia simples, que durante muitos anos o tratou como um filho.

Mesmo vivendo entre os mortais, ele ainda carregava consigo aquela sua personalidade arredia, indomada.

Mas o tempo foi passando, e aos poucos ele foi percebendo que não fazia parte do mundo em que

estava vivendo. Aos poucos, foi encontrando as respostas para todas os seus questionamentos, aumentando suas angústias.

Foi percebendo que nada que fizesse conseguiria mudar o instinto destruidor e voraz do ser humano.

Estava vendo aqueles que julgava semelhantes se destruírem, acabarem com tudo que deus havia lhes dado, e descobriu que estava morrendo aos poucos.

As pessoas são indignas de si mesmas. Não entendem o objetivo real de suas existências, a natureza celestial de suas vidas.

Quando o pequeno anjo, ainda acreditando ser diferente estava para esvair sua força vital, Deus o chamou de volta.

Como num passe de mágica, ele recuperou suas asisnhas, a consciência, e novamente estava sentado no colo aconchegante do nosso Senhor!

então esse lhe disse:

_ Meu pequenino. Te mandei lá para baixo para te mostrar que tudo tem seu tempo. Nada do que aconteceu com você não foi minunciosamente arquitetado. Só uma coisa não estava no programa: você deixar se abater tão facilmente. Aquele mundo é uma selva, mas os homens, um dia, por bem ou por mal, saberão enxergar sua verdadeira razão de existir. A natureza se reconstroi com a mesma velocidade que é destruida. Não se contente com o que você sabe, porque o que você sabe não é nem a milhonésima parte do que pode saber. Não se contente com o que faz, poque não pode fazer nem a milhonésima parte daquilo que é capaz. Não deixe de se preocupar com o que fez, mas também não acredite que isso seja motivo para nunca tentar sempre novamente. Todo dia é dia de recomeçar.

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