quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ENTRE A RAZÃO E A EMOÇÃO

Aqui estou eu mais uma vez.
Como tudo que eu digo vira uma tempestade, já vou começar pela tempestade então. Quem sabe não vira temporal.
Essa semana foi um inferno. Matriculas na Escola em que eu leciono, humilhação, desrespeito, ignorância...
Trabalho nessa Escola a 7 anos, minhas filhas estudam aqui comigo. O duro é que eu tenho que ficar explicando toda hora que elas só estudan aqui porque eu tenho direito. Praticamente tenho que andar com a Costituição da República Federativa do Brasil embaixo do braço.
É um tal de povo de fora, povo de fora, povo de fora que já está dando asia em Somrisal.
Gente de Deus. Eu me dedico de corpo e alma a uma cidade onde o povo só pensa no próprio umbigo? (isso é uma pergunta, não uma afirmação).
Todo pai que o melhor para os seus filhos, inclusive eu. Se acho que a educação no municipio onde leciono (Orindiúva-SP) é melhor do que no município onde eu moro Paulo de Faria-SP), é normal que eu queira levá-las para o melhor lugar. Legalmente eu posso fazer isso. Não preciso nem ficar explicando muito. Mas é um povo, em sua minoria diga-se de passagem, ignorante, pouco estudado, que briga e nem sabe porque. Brigam pelo único motivo de caçar confusão mesmo (perceba que eu disse "em sua minoria").
Chamaram até emissora de TV aqui ontem. Eu tenho amizade com uma moça que trabalha na TV Tem, e ela me disse milhares de pessoas ligaram lá para sugerir uma reportagem no município. Vieram, mas que se ela soubesse que era só bafão, eles nem tinham perdido o tempo de vir. Na Record então, nem falo nada.
Tive que enfrentar uma fila nas 21:30 de um dia até as 07:30 do outro para conseguir matricular as minhas filhas. Estou na Escola a 7 anos e nunca faltei. Tive que faltar para isso. E meus alunos me chamaram e perguntaram: professor, porque o senhor não deu aula ontem?
O que eu respondo?
Não importa o que eu penso, o que importa é que as pessoas devem ter um pouco mais de respeito pelas outras. Não ir julgando as pessoas simplesmente porque elas não moram no mesmo município.
É curioso. Em 2000 em dava aula de Mecanografia e Processamento de Dados em uma Escola Técnica em Paulo de Faria. Todo dia chegava um ônibus com alunos de Orindiúva para frequentar tanto o curso Técnico quanto o Ensino Médio, supletivo e Magistério. Não me lembro em momento algum de ver ninguém estar sendo chamado de "de fora", "clandestino", gente estar sendo taxado de tirador de vaga dos outros na Escola ou coisa parecida. O hospital não atende só os moradores de lá. Boa parte das pessoas que é atendida no Pronto Socorro municipal não é do município. Nunca vi ninguém reclamando disso também. Quando comecei a trabalhar aqui, um dia presenciei um comentário infantil de duas funcionárias da Escola onde diziam:
_ Esse povo de fora vem pra cá e toma o emprego do povo daqui. O prefeito tinha que proibir que pessoas de fora fizessem o concurso.
É de dar pena não é?
Agora veja uma situação interessante. Se você procurar na cidade alguém em que na identidade esteja escrito como naturalidade o municípiuo de Orindiúva, em 3.500 pessoas deve achar umas 4 ou 5. Ninguém nasce em Orindiúva. Não tem hospital. Já imaginou se o "povo" de Paulo de Faria, Riolândia, Nova Granada, Icém ou, na maioria, São José do Rio Preto, dizem assim: A PARTIR DE HOJE SÓ PODE TER DIREITOS NO HOSPITAL QUEM FOR DA CIDADE.
Ou contratam um pediatra ou reabilitam a profissão de parteira.
É muita ignorância (quem pensa dessa maneira. Se você pensa, você é).
É o famoso tudo que é meu é meu, tudo que é seu é nosso.
Vivo fazendo cursos pelo país, representando o município que acolhi como minha segunda casa. E representando bem, acredito eu. Muito mais do que o município onde eu moro.
Não quero muita coisa daqui, mas respeito é uma coisa que tem muito mais valor do que dinheiro.
As pessoas devem ter muito cuidado com o que dizem, inclusive porque perante o Juiz ninguém pode alegar ignorância da Lei.
Me condenem pelo que eu sou, não pelo que falam de mim.
Como disse o nobre Zagalo: VÃO TER QUE ME ENGOLIR. Mas com farinha e alface, kkkkk!
Não estou aqui para tomar o lugar de ninguém. Mas tenho direito de exigir o que é meu.

5 comentários:

  1. Querido amigo, lendo seu desabafo levo a crer, que o Jô Soares tem toda razão. O problema da maioria das pessoas não é educação, mas falta de educação...rs

    Abraços, sempre acompanho.

    Ah, não se esqueça. Estamos no Brasil.

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  2. nossa cidade eh assim mesmo o povo eh ignorante, mais pensando bem, foi uma pouca vergonha essa bagunça q a escola fez, mt mal organizado..

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  3. Isso até que é verdade, mas temos que entender também que a Educação também vem de dentro para fora, como de fora para dentro. Não é possível em um mundo moderno como o de hj a gente aceitar a idéia que, se eu concordo com algo que está errado, estou tão errado quando. Se há desordem, devemos fazer o possível para organizar. Palavras por si só não bastam. Fizeram muito para chegar onde chegaram, para hj deixarmos o nome da escola enlamear por uma situação tão triste. Há de se valorizar o esforço das pessoas. E outra: o povo daqui não é ignorante, mas se deixa levar facilmente pelos mesmos.
    Vlw

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  4. É Marco. Mais importante que desabafar, é poder aceitar de forma sadia a opinião de todos. Infelizmente vc está enganado. Antes de falarmos sobre a Constituição, precisamos conhecê-la. Eu conheço bem os meus direitos. Quem começou com essa história de "povo de Paulo de Faria", "povo de Orindiúva" foi o próprio pessoal de Orindiúva. Você precisava ver o que a gente passa lá pra ter uma idéia do que realmente acontece. Somos ridicularizados desde nossos primeiros dias de aula. Mas mesmo assim seguimos firmes, porque, na verdade, tenho que me preocupar com meus alunos e estes não seguem esse mesmo perfil. Quanto a "inexplicavel revolta" e "ingratidão com o povo que me acolheu", eu sou concursado. Graças a Deus, como você mesmo disse, em uma cidade que leva as coisas a sério, porque se fosse em Paulo de Faria, lá eles colocam quem querem. Mas em Orindiúva também ja foi assim. Quanto a Santa Casa, essa atende não é por força de estatuto só não fiote. Atende porque está intrinseco no perfil da saúde salvar vidas. Assim deve ser a Escola também. Essa semana comentei na Escola que metade de Orindiúva estudou em Paulo de Faria, seja no Técnico, seja no E.E. Vicente Luiz da Costa, seja no E.E. Nelson Alves Tremura. Nunca vi ninguém de lá querendo bater no motorista do ônibus de Orindiúva ou muito menos chamando eles de "de fora" ou "povo de Orindiúva". Por que isso agora. Agora, quanto a sua cidade me acolher, não estão me fazendo nenhum favor. Eu faço por onde. Me dedico todas as 10 horas do dia que eu estou em meu horário de trabalho e mais as outras 14 horas, porque professor não descansa. Se foi essa a impressão que passei, de ingratidão, peço desde já perdão. Não era minha intensão. Mas estão criando uma situação que não tinha necessidade de existir.
    São interessantes seus comentários, mas a eles cabem ressalvas.
    Agora a situação chegou ao seguinte ponto.
    Eu voto em Orindiúva. Ou seja, conheço a Constituição mais que muita gente e sei os direitos que tenho.
    Minhas meninas vão continuar estudanto em Orindiúva, que não é só a cidade que me acolheu, é também a cidade que eu acolhi e pela qual eu luto toda vez que tenho que representá-la nas cidades às quais me enviam.
    O que devemos fazer é nos preocuparmos mais em tentar tornar "nossa" cidade o melhor possível, mas sem esquecer que ela também teve um passado que deve ser levado em consideração, mas parece que todos querem fazer entender que Orindiúva existe faz pouco mais de 12 anos, e nós dois sabemos que não é verdade. Teve ladroagem, roubalheira e muita gente que trabalha hoje, se realmente tivesse que ser medido pela competência, não teria nem passado no concurso público. Infelizmente era assim, e graças a Deus conseguiram mudar essa situação. Paulo de Faria ainda está engatinhando, mas tenho certeza que também conseguirão mudar o seu futuro. Torço e reso para que isso aconteça.
    No final das contas o que ficou foi uma grande indisposição entre as duas cidades e ninguém levou vantagem nenhuma nisso. Ninguém mesmo.
    O ideal é uma cidade aproveitar o que a outra tem de bom e ambas aprenderem juntas.
    Se ainda quizerem me chamar de "de fora" em Orindiúva, é uma pena, porque eu não me considero assim. Mas, paciência não é?
    Obrigado pelo seu comentário.
    Abraço.

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  5. Ah! Só mais uma coisa.
    Quando eu disse a palavra ignorância não quiz dizer que todo mundo na cidade é ignorante. Se fosse assim, eu estaria fazendo mal o meu trabalho, porque, inclusive, trabalho com Educação. Não vamos levar as coisas ao pé da letra, porque senão ao invém de consertarmos a situação estaremos, na verdade, criando outra ainda maior. Lá tem muita gente ignorante sim, todos aqueles que fizeram aquela bagunça lá na frente da Escola são. Porque foi muito barulho por nada. Ao final das contas, todas as crianças foram devidademente matriculadas e ninguém saiu no prejuízo.
    Eu estaria, ai sim, sendo injusto, se chamasse a população de Orindiúva de ignorantes. Isso eu não fiz no meu texto em lugar algum. Mas que tem uns idiotas lá que só querem aparecer, a isso tem. Mas isso tem em todo lugar. Paul ode Faria tem muitos também, rs.
    Abraço.

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