quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Nessa vida, temos que valorizar e bater palmas para as pessoas que foram realmente importantes

Nessa vida, temos que valorizar e bater palmas para as pessoas que foram realmente importantes. Infelizmente, só nos damos conta disso depois que as perdemos.


Faleceu recentemente uma pessoa que era apaixonada pelo Brasil. Talvez mais até que muitos brasileiros, ao qual eu dedico minha singela homenagem agora, aqui, abrindo um espaço em meu cantinho, com um artigo que foi extremamente feliz. Parabéns!





Legado


Lévi-Strauss: morreu o pai da antropologia moderna
por ALBANO MATOS



Um contrato como professor no Brasil, nos anos 30, mudou para sempre a vida de Claude Lévi-Strauss. O autor de 'Tristes Trópicos' morreu em França, centenário e venerado por políticos e intelectuais de todo o mundo.

O homem que lançou as bases da antropologia moderna e foi o principal teorizador do estruturalismo morreu sexta-feira, a poucas semanas de completar 101 anos. Claude Lévi-Strauss morreu na sexta-feira e o seu funeral realizou-se segunda-feira em Lignerolles (centro de França), mas a família só ontem autorizou a Academia Francesa a dar a notícia, "receando ser invadida e ultrapassada pela mediatização da morte e das exéquias".
Filósofo de formação, foi no Brasil que começou, nos anos 30, a sua acção como etnólogo, estudando a vida dos milhares de índios que ainda sobreviviam a poucos quilómetros de São Paulo.
No seu livro mais famoso, Tristes Trópicos (uma espécie de autobiografia intelectual que venceu o prémio Goncourt em 1955), Lévi-Strauss escreveu: "Odeio as viagens e os exploradores." Era já uma crítica ao etnocentrismo, que ocupou parte importante de uma obra que empreendeu a reabilitação do pensamento primitivo.
Nascido em Bruxelas, filho de judeus franceses, formou-se na Sorbonne e estava destinado a uma carreira universitária "normal" se a sua infatigável curiosidade e a aceitação de um convite para dar aulas no Brasil não tivesse dado uma irremediável volta à sua vida. Dessa curiosidade nascem então investigações plasmadas em livros como Estruturas Elementares de Parentesco (1949), Antropologia Estrutural (1958) e O Pensamento Selvagem (1962), que Manuel Maria Carrilho considera "a trilogia que todos liam e que a todos influenciou". Philippe Descola, que lhe sucedeu na direcção do laboratório de antropologia social no Colégio de França, salientou a importância de O Pensamento Selvagem: "Não se trata do pensamento dos selvagens, mas do pensamento selvagem. É uma forma que é apanágio de toda a humanidade e que podemos encontrar em nós, mas preferimos ir procurá-la nas sociedades exóticas."
As suas concepções estão presentes em livros como Raça e História (1952) ou Mito e Significado (1978). Membro da Academia Francesa desde 1973, Lévi-Strauss legou ao Museu do Quai Branly importantes colecções, incluindo fotografias documentando o seu trabalho no Brasil nos anos 30.
Tímido, melómano, admirador da civilização japonesa, atraído pelo budismo nos últimos anos de vida, Lévi-Strauss recusou comparecer a todas as homenagens que lhe prestaram em Novembro de 1008 por ocasião do seu centenário. Manteve-se céptico até ao fim: "Penso no presente e neste mundo: não é um mundo que ame."Mas deixou herdeiros. Muitos poderão hoje como Dinah Ribard, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris: "Todos os antropólogos franceses são filhos espirituais de Lévi-Strauss."

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